terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O terror dos japoneses através de Goth e Ibitsu



            Se tem um gênero que eu goste muito é o terror. Desde mais jovem sempre gostei de assistir filmes que me faziam sentir aquela sensação de desconforto que apenas filmes de terror nos promovem. Sempre gostei de consumir arte fundamentada nesse gênero, e com mangás foi a mesma coisa. Porém, nada que realmente usasse tudo aquilo que o gênero pode oferecer chegou aos meus olhos, apenas alguns com uma supervalorização do sangue e ecchi (Highschool of the Dead) usado de forma imbecil e escandalosa, transformando cenas que deveriam causar medo em cinema erótico animado (deveríamos fazer uma petição online para a Madhouse animar Clic). E é pelo mangá de terror que hoje vou fazer uma resenha dupla, analisando dois mangás de terror/suspense que, deixando claro, na minha visão, mostram o que a de bom e ruim (principalmente a parte ruim) no tenebroso terror japonês, Ibitsu e Goth.





Ibitsu

            Começando pelo mangá bom, Ibitsu foi publicado de 2009 até 2010 pelo desconhecido Ryou Haruto na revista seinen Young Gangan, tendo popularidade média no Japão e quase nula no exterior. Fala sobre o jovem Itou Kazuki, um estudante comum que é perseguido por uma estranha garota após encontrá-la perto das latas de lixo de seu bairro. O mangá é intenso, tendo em quase todas as cenas uso exagerado de sangue e um ritmo frenético, sendo que em todos os capítulos ocorre algo importante para o entendimento e compreensão da série. Além do enredo principal, os volumes apresentam outras duas histórias como extras, também com terror pessimista e muito bem apresentado. Ibitsu tem vários pontos positivos que mostram aquilo que o terror em quadrinhos do Japão pode nos apresentar, então vamos a eles:

Angústia

            É essencial para uma obra de terror que você sinta medo, se você não sentir repulsa não valeu a sensação. E não tem forma melhor de fazer o leitor ficar apavorado do que colocando uma perseguição intensa. O mangá é inteiramente assim, com alguns flashbacks e mortes de coadjuvantes como coisa rara, o foco é todo na sequência em que a Lolita Gótica (vilã da série) fica perseguindo Kazuki, sempre com muita tensão e deixando uma sensação de desespero no leitor.
           
Mate, mas mate com estilo

            Algo que eu gosto no terror nipônico é a total falta de pudor na hora de expor violência. Desde aquelas histórias chatinhas (Another) até o terror gore (Junji Ito) sempre tem uma ou outra morte pesada e cenas de agressão absurdamente fortes. A utilização de sangue também é muito bem feita, aparecendo muito, mas nunca por razões imbecis. Quando um personagem sangra não é porque simplesmente tem umas camadas de pele a menos, mas porque realmente a agressão foi forte para lhe causar isto. Os assassinatos cometidos pela Lolita são bem diversificados, como marteladas (tipo, não aquele martelo que seu pai usa pra pregar a sua cesta de basquete improvisada, mas um martelo semelhante ao do Thor), facadas, tacos de golf, serra elétrica e, por mais estranho que soe, ensopados de carne (???). Tudo com muito sangue e choro, apresentado magnificamente através do ótimo traço do autor.



“E ninguém viveu feliz para sempre...”
            Filme de terror americano é chato. Sempre rola aquela carnificina com cabeça voando pra todo que é lado, mas no final sempre sobra a garota bonitinha e o namoradinho super-herói dela escapando e matando o monstrengo. Náuseas. Já no terror japonês isso não é lá muito comum, na verdade o normal é o artista sempre dar esperanças até o último momento, mas sempre matar o protagonista. Não que um “final feliz” seja ruim, mas é muito mais divertido e excitando quando o vilão vence.



Lendas Urbanas

            Acho que esse é o principal ponto. Afinal, quem aqui não gosta de uma lenda urbana? Duvido que vocês nunca assistiram aquele quadro do Domingo Legal onde atores ruins faziam interpretações ridículas de lendas como “A loira do banheiro” e “A rosa do cemitério”. E aquelas novas pegadinhas do Sílvio Santos, onde ele cria situações de tensão e coloca uma garotinha satânica para assustar as vítimas? Legal né (definitivamente não)? Lendas urbanas são legais, dão medo e ainda trazem aquele ar anos 80 nas nossas vidas. E no Japão tem as melhores, as modernas (coisas que reúnem mensagens no celular e pessoas saindo da TV) e as antigas (fantasmas em construções abandonadas e em túneis escuros) são grandes expressões da cultura do país e, para o bem dos otakus, alastrou-se também para os mangás e animes. Em Ibitsu, aliás, além da história principal, os dois bônus seguem a mesma linha de lendas urbanas.



Goth

            Goth é um spin-off do livro de novelas “Goth: A novel of horror”. O mangá foi desenhado por Ooiwa Kenji e roteirizado por Otsu Ichi. Blá Blá Blá. A origem ou qualquer outra informação sobre este mangá é desnecessária. Só estou falando dele porque cai como uma luva em tudo o que eu não gosto em terror. O traço é meia boca, as páginas são escuras demais e o roteiro parece ter sido feito por uma criança de 10 anos que quer assustar a professora idiota do primário. Um péssimo mangá que consegue evidenciar com clareza aquilo que o terror japonês pode produzir de pior.

Eu dou medo! Você tem que acreditar em mim!

            Um dos primeiros problemas com este mangá é a climatização das cenas. O cenário escuro e o ritmo tedioso são fortes pontos negativos. A tentativa de afligir o leitor é um fracasso, pois os diálogos e pontos de clímax apenas dão um ar brega no desenvolvimento e a conclusão de arcos é quase imperceptível. Podemos dizer que Goth é ruim por simplesmente não assustar, não angustiar e não perceber que esta falhando em tudo e sendo ridículo no propósito de fazer terror.

Sou protagonista de uma série de terror. Tenho que ser inexpressivo.

            Ok, isso não é comum em mangás, mas em Goth é muito claro. É incrível como os personagens não demonstram sensação nenhuma, parecendo robôs. Isso tudo enquanto eles são ameaçados de morte, sequestrados, encalabouçados (acho que essa palavra não existe...) e sofrem várias outras formas de tentativa de assassinato. Uma boa história só funciona se os personagens te convencerem de que tudo aquilo é real, o que passa longe de acontecer aqui. Pior, a falta de expressões parece ser causada não por opção estilística do autor, mas sim por preguiça.



Olha como eu sou mal enquanto mato!

            Por mais estranho que pareça, assassinatos podem ser pontos fortes e fracos ao mesmo tempo. Ibitsu toca o terror com sangue e violência brutal, coisa comum em mangás gore de Suehiro Morou e Junji Ito. Mas o terror de lá não se fecha em apenas um estilo, existem aqueles que gostam de sangue e sofrimento, mas existem aqueles que gostam de tortura e um pouco mais de elegância por parte dos assassinos. Goth tem ai seu maior fracasso: as cenas de violência são fracas pela economia de sangue e, remetendo ao primeiro item, são todas romantizadas demais, abusando do estilo e se tornando uma história muito brega.

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